Fonte: Blog do Lars
No início dos anos 80, a Semana Pré-Olímpica de Vela viveu seu apogeu.
A CBVM sob o comando de Eduardo Souza Ramos e com apoio da Atlântica Boavista e Bradesco, promoveu o mais relevante evento anual de Vela de Alto Rendimento no país.
As classes olímpicas reuniam de 15 a 30 barcos em cada classe e conviviam em regatas de altíssimo nível, contra os melhores do mundo, alguns, lendas do Iatismo como: Melges; Ullman; Smyth; Doreste e tantos outros.
A Pré-Olímpica visava elevar a quantidade e qualidade da Vela Olímpica Brasileira. Este movimento, desencadeou as 12 medalhas que a Vela Brasileira obteria nos jogos seguintes.
O objetivo não era de burocraticamente indicar o melhor do Brasil para correr no exterior e este voltar defasadamente superior aos demais. O objetivo era trazer o mais alto nível e disponibilizar o conhecimento para todos. Algo mais plural e includente.
Na classe Tornado por exemplo, na edição de 1983 da Semana Pré-Olímpica, tinha 1 dupla americana (campeã mundial); 3 duplas austríacas (1 campeã européia); 1 alemã; 4 argentinas e 11 barcos brasileiros. Ficar na 5a colocação, causou-me o maior orgulho e incentivo. Hoje a Pré-Olímpica reúne de 1 a 5 barcos e apenas 1 receberá a benécie das verbas públicas e da confederação.
Graças a esta visão de futuro, pude absorver conhecimento do americano Randy Smyth (campeão mundial de 1982 e 1983), e conquistar a vaga para minha primeira olimpíada em 1984.
Pelos critério atual, nunca teria chegado lá...
Em 2010, a CBVM decidiu aprovar uma mudança na regra de forma a proteger os interesses dos membros da Equipe Permanente de Vela Olímpica - EPVO. A eliminatória começaria pelo mundial da ISAF em Perth (Australia). O melhor brasileiro que classificasse o brasileiro lá, ganharia um ponto.
O segundo e derradeiro ponto, viria da atual moribunda Semana Pré-Olímpica de Vela que ocorrerá em fevereiro de 2012 em Búzios. Caso houvesse empate, o desempate viria de um terceiro evento no exterior.
Ora, num país com mais de 8 mil km de costa, fazer eliminatória da Australia (não poderia ser mais longe?), é no mínimo um casuismo. Isto por um acaso é esporte de inverno que tem que fazer seletiva olímpica nos alpes suiços? No mínimo um casuismo, ou, um jogo de cartas marcadas.
Marcadas porque somente o membro da EPVO iria para a Australia com tudo pago, técnico e barco novo. O princípio da competitividade, parte do pressuposto da isonomia de chances entre os concorrentes no certame.
Se um mortal mandasse às suas próprias expensas seu barco para a Australia, não teria seu próprio barco para a seletiva em Búzios. Esperto né?
O critério foi aprovado numa reunião durante a Semana de Weymouth na Inglaterra entre a direção da CBVM e os próprios membros da EPVO. Aprovado ainda à revelia do Conselho Técnico que fiz parte e me desliguei.
Não condeno os velejadores que apenas buscam o melhor para si. Lembra a realidade da política brasileira. Quem tem um benefício, trata de defendê-lo. Quem não tem, reclama.
Um político mineiro certa vez ironicamente definiu o conceito de uma negociata: "um grande negócio ao qual você não foi chamado a participar..." Certo? Tá errado!
A CBVM deveria ser muito mais do que um escritório de administraçào dos interesses da equipe permanente de Vela.
A Pré-Olímpica de 2012 poderia ser sensacional colocando, por exemplo, na raia uma disputa eletrizante entre Scheidt, Torben Grael, Lars Grael, Alan Adler e outros velejadores não menos expressivos.
Jamais questionaria a supremacia da dupla Scheidt / Prada de longe a favorita. Simplesmente a melhor do mundo. Eles provavelmente ganhariam com brilhantismo.A eles, nossa admiração e torcida.
Da forma que foi feito, a disputa não ocorrerá. A CBVM conseguiu eliminar nossa motivação antes do evento. Uma pena!
A Pré-Olímpica vai ser um desfile de pré-classificados com exceção de uma disputa quente entre 2 barcos na classe 470 feminino.
Tomara que a mentalidade mude. Londres já chegou e torceremos para nossa equipe brasileira de qualquer jeito!
A Vela Brasileira atingiu supremacia continental nos panamericanos de 2007 e 2011 e isto lastreia a filosofia que impera no Brasil, que o fim justifica os meios.
Preocupo-me com o futuro e com a falta de renovação. Ninguém quer ser azeitona da empada dos outros no atual formato da Pré-Olímpica.
Pensemos em mudanças. Pensemos em 2016, 2020...
Bons Ventos,
Lars Grael