Fonte: Antônio Alonso, blog Sobre as Águas
A esta altura todo mundo já está sabendo da tal bolsa-medalha. Os número são ambiciosos: um bilhão de reais investidos no esporte, bolsas de até R$ 15 mil para atletas de modalidades individuais que estejam entre os 20 melhores do mundo. Mas o objetivo não enxerga longe, é míope (e não poderia ser mais picareta): subir no maldito ranking olímpico de medalhas. Além de míope, o programa é vesgo, porque pretente desenvolver o esporte olhando para o lado errado.
Antes de continuar, eu preciso deixar claro aqui que eu sou um admirador de ações, não de planos. Não sou cego eu mesmo e sei que nos últimos anos o investimento no Esporte começou a virar coisa séria e que nunca os atletas brasileiros tiveram tanto apoio como agora. Reconheço isso e aplaudo.
Agora, colocar como meta a picaretagem do quadro de medalhas é reduzir o investimento no Esporte à lógica da propaganda. Sim, porque o número de medalhas de ouro de um país está longe de mostrar o quão vitorioso é seu programa esportivo. O Brasil já sabe há tempos que será sede olímpica em 2016. Você conhece alguma jogadora de hóquei na grama? E a turma do rugby, que treina dois dias por semana? O Brasil tem classificação garantida em todos esses esportes, mas deixou quatro anos se passarem e não se mexeu. O Brasil é uma potência nos esportes coletivos. Até onde eu sei, é o único país com títulos mundiais de vôlei, basquete e futebol. E está perto do título mundial no handebol feminino (falta só cabeça).
Ao priorizar os esportes individuais, o Bolsa-medalha vai ser vir para o Brasil subir muito pouco no ranking, porque não se faz um campeão mundial com grana só. Na maior parte dos casos, é preciso que os adversários desse cara aqui no Brasil sejam duros. Campeões nascem em solo fértil, não derrotando atletas desmotivados. Para ficar com o exemplo da Vela, tanto Robert Scheidt como Torben Grael tiveram que derrotar campeões mundiais brasileiros para chegar às Olimpíadas. Hoje eles parecem pioneiros, mas não são.