Circuito Canoas Va´a Brasil 2014
Por Ricardo Machion do Blog Mulheres da Água
Fotos: Gilmar Domingos de Oliveira
Os dias 5 e 6 de abril, abriram o Circuito Va´a Brasil 2014 com muito sol e a presença garantida da elite da canoa havaiana feminina, nas categorias iniciante e open. As equipes vieram de várias partes do Brasil para competir o circuito que conta pontos para o Brasileiro, e também serve para os treinos com foco no mundial de Va´a de velocidade, que acontecerá no Rio de Janeiro de 12 a 17 de agosto.
O primeiro dia de competição na categoria iniciante feminino de OC6, canoa havaiana de 6 lugares, foi marcada por uma alteração de raia que em princípio teria como largada a biquinha em São Vicente avançando rumo à baia de Santos, passando pelo lendário Porta do Sol, local onde encontra-se uma laje que forma uma onda bastante conhecida na região. A raia para a categoria iniciante foi então alterada tendo sua boia de contorno após a passagem das pontes Pênsil e do Mar Pequeno no município de Praia Grande, uma região de paisagens belíssimas e águas abrigadas, mas que por conta de troca de maré e um pouco de vento, fez com que as remadores utilizassem força e técnica para navegar junto de embarcações à motor que em algumas passagens, geravam ondas que, em alguns momentos acabam por desequilibrar a embarcação, tendo a segunda boia de contorno localizada próxima ao Ilha Porchat que em seu trajeto também tinham a passagem próxima ao Porta do Sol, local muito conhecido pelos frequentadores locais por se tratar de uma laje onde é possível surfar e por ser também o local de entrada de ondulação rumo às praias de São Vicente, gerando um forte movimento de corrente que poderia com facilidade alterar o rumo da embarcação, exigindo maior esforço por parte das remadoras.
As equipes iniciantes apresentaram uma boa performance, mantendo um equilíbrio na disputa, mesmo tendo algumas tripulações com pouca experiência em raia, mostraram que tem sede de vitória e buscando o melhor, mostraram que são capazes de remara de igual para igual.
Na categoria Open, por conta da melhora de condição de mar, a prova seguiu sua programação normal onde seriam percorridos os 20 km entre São Vicente e Praia Grande. Essa prova trouxe muita expectativa para todas as remadoras que em sua grande maioria desejavam uma prova de longa distância ao contrário do que seria previsto por conta das condições anteriores, contornar diversas vezes as mesmas boias, pois existe um grande desgaste e a perda de um tempo precioso nessa manobra por conta da grande área molhada da embarcação que possui aproximadamente 15mts de comprimento.
Nessa categoria muitos fatores somam-se para o resultado final, afinal, todas as remadoras se conhecem de muitas outras provas, sabem onde podem tirar uma fração de vantagem e mais do que ninguém, sabem que uma boa largada é capaz de deixar as adversárias com a estrutura emocional abalada. Se uma tripulação for capaz de manter a mesma cadência de remada dada numa boa largada, as chances de vitória certamente serão grandes, mas existem muitas outras estratégias e numa prova de longa distância, o equilíbrio desses fatores pode se transformar na grande vitória.
O sol seguia muito forte na largada quando as equipes receberam o tiro de largada, que exigiu além da força uma rápida leitura das decisões de manobra uma vez que uma navegada mais aberta poderia oferecer certa resistência na primeira perna e, considerando que seus quase 15 metros de área ofereciam uma carga considerável de força para manobras com o objetivo de se destacar do grupo de pouco mais de 5 canoas que disputavam ferrenhamente um espaço dentro daquela raia. Após as estratégias tomadas e pouco mais de uma hora de remada, as equipes open já haviam contornado a boia de retorno e da areia já era possível ver ao longe um pequeno ponto na imensidão azul o que minutos mais tarde seria a tripulação campeã, mas que não muito distante trazia tripulações equilibradíssimas numa disputa proa a proa entre os 3 e 4 lugar.
Para quem ainda não está familiarizada com o esporte, Va´a e a definição para as canoas que, na polinésia são tratadas como parte da família.
No Brasil as embarcações variam entre 1, 2, 4 e 6 lugares e, segundo os polinésios, possuem alma própria, as embarcações mais tradicionais, as OC6, também chamadas por Outrigger Canoe ou Ocean Canoe, têm sua tripulação composta por 6 remadoras, que são distribuídas por toda a canoa seguindo uma ordem de função. As posições são distribuídas pela posição dos bancos, assim chamados por, banco 1, 2, 3, 4, 5 e leme, o banco de número 6.
O banco 1 é o voga, responsável por ditar se o ritmo da remada será curta ou longa, o banco 2 multiplica a informação do ritmo para as remadoras do banco 4 e para a remadora do banco 6, o leme, e também vigia o iako dianteiro, iako é um braço que liga o casco da embarcação à Ama que é um segundo casco que ajuda a estabilizar a embarcação. A remadora do banco 3 é a responsável por contar o ritmo e, a cada 20 ou 25 remadas puxa o grupo com o Hip-Ho em coro que determina a troca de lado da remada e identifica o pique que segue a tripulação, com muita ou pouco energia. O banco 4 é a responsável por vigiar o iako traseiro, controlando a oscilação da canoa, o banco 5 quando necessário tem a função de retirar a água da embarcação e o banco 6 e última remadora, é a responsável pelo leme que dá a direção da embarcação e é também a responsável por incentivar as outras remadoras nas puxadas de remada. Um esporte que exige muito foco e trabalho em equipe, Aloha.