Você sabe o que é Downwind?
Por Ricardo Machion - texto
André Lima - fotos
Para quem ainda não está familiarizado com essa modalidade ou nunca teve notícias, farei uma breve explanação sobre o assunto. Downwind é uma forma de navegar, velejar ou mesmo remar a favor do vento ou seja, você segue na mesma direção que ele aponta. É uma modalidade já consolidada fora do Brasil, principalmente entre as ilhas havaianas, aqui recebeu o nome de W2 que representa as 2 forças que proporcionam a prática, vento (wind) e onda (wave). A soma desses dois fatores forma o ambiente perfeito para os remadores que desfrutam de uma raia tão perfeita quanto uma pista para a fórmula 1.
Tive a oportunidade de acompanhar de perto a etapa 2013 realizada entre Búzios e Cabo Frio com aproximadamente 22 km. Minha experiência iniciou muito antes da largada, pois fiquei responsável por uma das embarcações que acompanhou todos os remadores durante o percurso que teve sua largada da praia da ferradura em Búzios.
Como fiquei responsável por uma das embarcações rápidas, um jet-ski, como qualquer marinheiro meu dia começou cedo, procedimentos de marina, abastecimento e o principal, o estuda da região para navegar.
Em princípio sairia acompanhando uma embarcação até o local da largada, mas por conta de pequenos atrasos acabei por contornar toda a península sozinho. Partindo da praia de Manguinhos segui rumo a praia da Ferradura, foi uma navegada de aproximadamente 40 minutos passando por paredões imensos, como não conhecia nada da região além de ter visualizado a região na minha carta náutica digital, decidi por uma navegação segura e segui uma embarcação de turismo que por sorte fazia o mesmo trajeto que eu.
Corria contra o relógio e em determinado momento e já distante dos paredões, decidi seguir sozinho para alcançar a linda baia da Ferradura. Quando avistei sua pequena entrada, segui em baixa velocidade pois já havia visualizado as pedras que um experiente navegador local havia me alertado, aos poucos saí daquela área de águas mexidas para adentrar a uma baia calma, de águas com seus muitos tons de verde e tranquilas.
Pilotava um jet-ski muito potente e a entrada na baia também foi usada para abastecer com mais 20 litros de combustível que seriam úteis para o acompanhamento dos atletas durante o percurso. A largada estava programada para as 9hrs e todos estavam ansiosos, afinal a semana estava instável e até o sábado que antecedeu a prova, o tempo ainda seguia ruim, mas o domingo acordou ensolarado e tanto as ondulações como o vento apontaram para o quadrante perfeito para a prova. Atletas de todas as regiões do país estavam presentes, todos competidores de alto nível querendo testar suas técnicas e sua resistência na longa remada.
A largada foi dada e aquela euforia que tomava cada um dos competidores e também todos nós que compúnhamos a equipe de água se transformava em foco absoluto, nossa equipe se dividia entre embarcações rápidas para resgate, embarcações com mídia seca (sem equipamentos a prova dágua) embarcações com capacidade para carregar atletas e seus equipamentos e eu que seguia com um vídeo maker a bordo no jet-ski. Por conta da minha experiência com embarcações e navegação naquelas condições de mar, fiquei incumbido de posicionar o vídeo-maker para a melhor condição de capitação de imagens.
Navegávamos entre os atletas buscando os melhores ângulos, as canoas seguiram disparadas à frente dos remadores de stand up paddle, então acabamos que optando por acompanha-los primeiro até um determinado ponto, suas performances sobre as ondulações geraram imagens alucinantes, mas tínhamos uma certa pressa nas captações, pois por se tratar de ondulações oceânicas cada remador optou por uma linha de raia e isso os mantinha distante uns dos outros, então tínhamos que considerar uma série de fatores para acompanha-los, inclusive a distância na aproximação e na navegação uma vez que nossa passagem poderia gerar ondas que os atrapalharia muito naquelas condições ocasionando quedas.
O percurso entre Búzios e Cabo Frio é impressionante e também cheio de pequenos pontos de atenção como ilhas entre a costa e até mesmo lajes, mas tudo dentro de uma segurança visual, mas sempre considerávamos a aproximação como um fator de risco uma vez que qualquer atleta poderia sofrer uma queda ou até mesmo ser arrastado por conta de cansaço, por esse motivo nosso plano de segurança contemplava embarcações em todos os pontos de passagem entre os atletas e também uma barca que fechava o trajeto atrás do último remador. Muitos momentos os remadores estavam numa viagem solitária, remando de maneira individual, mas não fora do alcance visual da equipe de água.
A chegada no Clube Náutico de Cabo Frio ainda reservava algumas surpresas, afinal sempre que visualizamos embarcações e terra temos a sensação de chegada, mas não era exatamente o que os remadores encontraram pouco antes de entrar na linha da praia. Antes de apontar essa linha uma área onde as águas estavam revoltas entre a costa e uma pequena ilha, derrubou muita gente que já estava cansada. Acho que dos 20 km percorridos, esse trecho foi o que mais exigiu de todos, inclusive de nós que estávamos embarcados, ondas vinham de todos os lados e isso impedia uma navegação mais rápida e qualquer descuido poderia se tornar um problema.
Mas passado esse trecho tive a oportunidade de ver em cada rosto o alívio e a sensação de missão cumprida, melhor que isso, logo que essa região era deixada, as ondulação corriam paralelas aos paredões criando uma pequena onda onde assisti cada remador surfa-la com prazer. A chegada ao clube ainda oferecia uma distância de aproximadamente 2 km de águas claras, passando pela ilha dos japoneses. Foi uma grande emoção acompanhar todos os participantes, cada um construindo sua história, superando seu limite, comemorando à sua maneira, do primeiro ao último todos foram vencedores e foram recebidos com aplausos, pois cada um que esteve presente na prova sabe o quão dura é e o quão dura pode se tornar com qualquer alteração das condições.
Aloha.