Paulo Lemos Ribeiro conta sua experiência da Regata Chiloé no Chile
O barco brasileiro, Lancer Evo de Eduardo Souza Ramos, foi o vencedor na classe Soto40 da 12ª edição da Regata VTR Chiloé, realizada de 21 a 28 de janeiro na Ilha Grande de Chiloé, sul do Chile. Entre a tripulação campeã estava o velejador Paulo Lemos Ribeiro, do Veleiros do Sul, cuja função a bordo era o trabalho no mastro.
A vitória na competição, que é disputada de dois anos dois anos, foi uma experiência para ele de “alto nível” não só por velejar com pessoas de renome internacional como também pela própria regata em si. A VTR Chiloé tem um formato diferenciado, os barcos viajam, a cada dia, para uma cidade diferente, em regatas de percursos de, aproximadamente, 30 milhas. Conforme Paulinho diz nela “tudo é um atrativo”.
”Nós partimos de Puerto Montt e fomos velejando por lugares com paisagens lindas, víamos a cordilheira dos Andes, paredões de pedra, vegetações exuberantes era tudo encantador.”
Outra coisa que chamou muito a atenção do tripulante foi o aspecto social nesta competição. “As paradas eram feitas em pequenos vilarejos, com menos de 1 mil habitantes, onde a organização promovia ações sociais com as pessoas que recebem cursos de desenvolvimento naval e mergulho que servem para os jovens aproveitarem no trabalho de cultivo de ostras, limpeza de cascos e construção de barcos pesqueiros. Além disso, preparam refeições coletivas para toda a comunidade.
Numa dessas paradas tive uma experiência gratificante. Um senhor idoso se aproximou de mim e agradeceu por tudo que a regata estava proporcionando ao povo. Ele me disse que estava muito satisfeito e quando comentei que era um velejador brasileiro o senhor ficou emocionado. Nunca esperei ouvir tal tipo de manifestação num campeonato de vela”.
Como a regata passava por esses povoados que não possuem estrutura turística as hospedagens das tripulações eram feitas num navio cruzeiro que acompanhava todos os trajetos. Com um serviço de bordo completo e de qualidade.
Quanto ao aspecto técnico da competição, Paulinho Ribeiro conta que os barcos das flotilhas velejavam sempre próximos, em todos os percursos, tanto nas barlasotas (portos) como nas longas. Mas havia algumas dificuldades, como a correnteza contrária de até 3 nós de velocidade em certos canais. Tinham que conhecer o caminho para se safar o melhor possível. Outro problema eram as algas, chamadas lá de “sargaços”, tipo kelpes. Elas mediam de 10 a 20 metros e se enroscavam nas quilhas a ponto do barco perder a potência.
Navio hotel acompanhava a regatal
”Nós tínhamos um endoscópio no barco para enxergarmos o fundo do barco. Algumas vezes precisei mergulhar entre aquela ‘floresta de algas’ para liberar a quilha. A temperatura da água era de 8ºC e por isso sentíamos muito desconforto, além delas baterem na gente. Eu me revezava nessa função com o Rodrigo Duarte, o Leiteiro. Já as condições de vento variaram de 4 a 20 nós, o tempo foi de sol e somente no último dia caiu uma garoa e baixou a temperatura. Nosso ponto mais meridional que velejamos foi no paralelo 47º sul.” Além de Paulo Lemos Ribeiro a equipe teve mais dois velejadores gaúchos: Rodrigo Duarte e Guilherme Fasolo.
A bordo do Lance Evor havia tripulantes conhecidos no mundo da vela. O tático era o italiano Vasco Vascotto, detentor de 18 títulos mundiais, que causou uma impressão muito positiva para o Paulinho, por demonstrar conhecimento e segurança no que fazia. “Esse cara tinha um método de raciocínio ágil que me chamou a atenção, ele possuía uma habilidade fantástica para se posicionar na raia, sabia de cabeça a pontuação e o que eles deviam fazer para conquistar esses pontos”. Vascotto já atuou na equipe do barco italiano Luna Rossa, na America’s Cup. Outro tripulante que o impressionou foi o trimmer australiano, o “Fliper”, como é conhecido na vela, que pertenceu à equipe Oracle. “Velejar com eles é um aprendizado, além disso, sabem muito bem passar as informações adiante. Foi sensacional,” conta Paulinho. E arremata; “Recomendo que os velejadores do Clube corram essa regata, tudo nela é um atrativo.”
O Lancer Evo foi o mais regular da classe S40, somando 35 pontos perdidos após 12 regatas (com um descarte). Além da S40 o VTR Chiloé teve a participação das classes IRC, Clássicos, Trailereables, Beneteau 36.7 e J-105. No total estiveram presentes 61 barcos com cerca de 500 velejadores.
Percursos
Puerto Montt - Calbuco
Calbuco - Quemchi
Quemchi - Achao
Achao (Pta Matao) - Lemuy
Pta. Matao - Castro.
Caleta Lemuy - Castro.
Mechuque - Calbuco
Calbuco - Pto. Montt
Os trajetos entre Castro e Tenaum foram feitos traslado das tripulações e os barcos seguiram somente com os marinheiros porque a navegação nos canais era de grande dificuldade.
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