A saudade da família ainda é o maior desafio das mulheres que sonham embarcar em longas travessias
Por Marcela Rocha da nautica.com.br
Ser uma mulher que veleja não nos torna menos (ou mais) mulher. Mesmo com todas as dificuldades femininas de uma vida a bordo, permanecem a vaidade, o cuidado com a família, o capricho com os móveis, as ousadias culinárias, entre outros elementos que fazem parte do dia a dia de uma mulher. É sobre o universo das mulheres que gostam (e vivem) o mundo dos barcos que vou abordar nesta coluna a partir de hoje.
Faço parte de um grupo em uma das redes sociais que reúne justamente mulheres que usualmente velejam e, principalmente, trocaram suas casas para realizarem o sonho de morar em um barco. Nossos papos, conselhos, dúvidas e medos vão dos mais bobos aos mais complexos que talvez nem Freud explicaria.
Você já ouviu falar em homesickness? É uma “doença” que costuma abater parte das mulheres que encaram a doce vida a bordo. Em bom português, homesickness quer dizer “doença da sem-casa”. Para quem nasceu, cresceu e sempre viveu em terra firme, deixar os parentes para trás, amigos e algumas vezes filhos crescidos, não é tão fácil como parece nas fotos das viagens de barco. A homesickness só se manifesta nas mulheres depois de alguns meses no mar. É como se a ficha demorasse a cair. E demora mesmo. No meu caso, levou pouco menos de 10 meses. O mar é azul, a brisa é aconchegante, a paisagem é linda, a vida a bordo é fascinante, mas a cobrança por estar vivendo um sonho “sozinha”, ou seja, longe dos entes queridos, pode se tornar um mergulho muito profundo na depressão. O que era para ser uma viagem de sonho, pode se transformar em um pesadelo. Algumas enlouquecem. Mas a maioria encara a realidade e consegue seguir em frente. Foi o que aconteceu comigo.
Muitas velejadoras sentem isso, mas ficam caladas. Preferem não compartilhar com seus companheiros com medo de serem ridicularizadas, mas entre as que conversam, o apoio é mútuo e a resignação é o melhor remédio. Enquanto umas sofrem por estarem longe de casa, da mãe, da irmã e outros familiares próximos, outras, mais acostumadas com a vida a bordo, têm preocupações bobas e corriqueiras que acabam irritando no dia a dia de um barco. Cabelos, por exemplo, são um terror a bordo. Você já reparou como eles estão em toda a parte? Qual o lugar ideal para escová-los. Viver passando o aspirador ou abaixando para pegá-los?
Outra coisa: adivinhe só qual o momento mais esperado por algumas mulheres em uma travessia? Simples: quando atraca em uma marina, para usufruir dos excelentes chuveiros de quente e banhos demorados. E o momento mais triste? Quando o barco volta para o mar. Aí, o jeito é um banho rapidinho e, de preferência, sem usar condicionador, porque gasta muita água para enxaguar. Apesar do pouco conforto que um barco pode oferecer em uma travesseia em relação à uma casa convencional, nós sabemos o momento de deixar a vaidade de lado para encarar a necessidade.
O universo feminino já é confuso por natureza e cheio de mistérios. Imagine tudo isso inserido do mundo do velejador ou de quem leva uma vida a bordo? Assuntos, dicas, reflexões e até mesmo conclusões contraditórias não faltarão. Afinal, mulher é (e sempre será) complicada mesmo — e isso é uma delícia!
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