Sampa V6, uma prova de canoa havaiana que deixou os remadores de cabeça quente!
Por Ricardo Machion | Mulheres da Água
Aconteceu nesse último final de semana 8 e 9 de fevereiro na Represa de Guarapiranga, na sede da Team Brazil o Sampa V6 Race, prova de Canoa Havaiana.
São Paulo acordou com o astro rei disposto a mostrar todos os dentes, nem completávamos as 10hrs da manhã e o calor já era insuportável, dentro da área dos atletas as equipes se dividiam em pequenas estruturas cobertas conhecidas como gazebos, outra parte embaixo das árvores e na sede administrativa. As canoas ficaram todo o tempo expostas ao sol, então não é preciso dizer que a temperatura interna não era das mais confortáveis, mas tanto atletas como canoas precisaram de água antes da largada.
Apesar da manga longa usada para proteção, bonés e camelbacks abastecidos com água, os nervos já fritavam antes da largada. Na prova dos 12km tive o privilégio de acompanhar as Mulheres da Água da equipe SP Va´a, que disputavam uma vaga no podium da categoria iniciante. Um fator considerado importante para a performance de uma equipe é o treino, mas nem sempre é possível conciliar os treinos e até mesmo agendas com foco numa competição e, até poucas semanas antes da prova a tripulação não estava confirmada, apesar de todas treinarem individualmente. Uma embarcação como a OC6 depende de muitos fatores para vencer, possui aproximadamente 14 metros o que exige uma visão e sensibilidade muito grande do leme, pois o deslocamento de uma embarcação desse tamanho não se faz de maneira brusca, por isso alcançar uma posição exige estratégia da tripulação.
O sábado a equipe correu os 8km da estreante e encararia ainda um domingo de 12km, o sábado foi concluído com um 3º lugar, mas aquelas meninas queriam mais, tiveram 8km para alinhar as posições dos bancos, checar as melhorias e agora aguardavam ansiosas a largada dos 12km. Por conta de imprevistos a largada sofreu um atraso de 1 hora, quanto mais avançava o horário, mais forte o sol ficava. 12km é uma prova de tiro, depende muito de uma boa largada onde normalmente já se define as posições, um erro na saída poderia comprometer todo o percurso da prova, mas parece que àquelas remadoras não estavam dispostas a aceitar menos do que a vontade de conquistar.
O vento do início da manhã que proporcionava um pequeno downwind assim que deixassem a primeira ilha já enfraquecia o que também ajudava a largada, pois entrava por boreste empurrando as canoas umas sobre as outras. Muitas tripulações tidas como favoritas estavam na raia, todos com muitas expectativas, comentários de backstage que tal canoa era melhor, mais nova, mais calibrada, enfim... Aquele não era mais o momento de pensar em nada além de remar com muita força, muita, muita força.
É dada a largada, todas as embarcações remam rumo a 1ª ilha de contorno, a Ilha dos Amores, deixando ela por bombordo ou pelo lado da ama, seguindo rumo à Ilha dos Eucaliptos, entre essas duas ilhas a equipe da SP Va´a se manteve na 4ª posição, mas como dizia um amigo piloto de rallye, não me preocupa o 2º ou o 3º, por que são os 4º e 5º que dão o gás no final e assim foi, a SP Va´a fez duas tentativas avançando sobre a canoa da Manaia Team Brazil, investidas fortes, afinal são 14 metros para se ultrapassar no contorno da ilha, forçaram mais algumas vezes, mas por conta da proximidade da margem a Manaia conseguiu se safar da sede de vitória que aquelas mulheres carregavam no olhar.
Ao término do contorno da ilha uma brisa vinda da direção da linha de chegada, ainda distante, não impede uma manobra ousada do leme que direcionou a canoa por fora para que tivessem condição de alinhar casco com casco. E foi assim, metro a metro foram avançando, remadas duras, remar no contra vento exige muito, o corpo rema numa posição desconfortável uma vez que o objetivo é reduzir ao máximo a área velica. Cada remada e cada impulso com o corpo fazia a canoa avançar cada metro que poderia trazer mais um avanço na posição, momento de muito esforço, sol escaldante, um controle emocional acima de tudo para controlar a água evitando se desidratar, calor e frieza caminhando juntos, segundo a segundo.
Eis que um casco ultrapassa o outro e agora é a hora de gastar toda a energia, encontrar força onde acredita-se não existir mais, é a hora do tudo ou nada, agora não queriam apenas chegar na frente mesmo que fosse por 1 centímetro, queriam ganhar, chegar à frente de quem passaram a prova toda buscando e essa vontade a cada minuto que passava, fazia com que a distância com a 3ª colocada fosse também aumentando até que ovacionadas por uma torcida alucinada, cruzassem a linha de chegada e esse momento, tenho certeza, está gravado na memória de cada uma das remadoras, é aquela vontade de soltar o grito do esforço, da dedicação, do limite, do companheirismo e da amizade.
Parabéns SP Va´a, foi um 2º lugar com honra de 1º! Mahalo.