ARTIGO: O testamento de Tamandaré
Fonte: Almanáutica
Em 13 de dezembro comemora-se o Dia do Marinheiro. Homenagem da Marinha do Brasil ao Almirante Tamandaré, seu patrono. Mas quem foi ele? Almirante Tamandaré, nascido Joaquim Marques Lisboa na cidade do Rio Grande em 13 de dezembro de 1807, faleceu no Rio de Janeiro em 20 de março de 1897. Tamandaré participou – entre outras – das batalhas da Independência do Brasil, na Bahia, da Confederação do Equador e da repressão às revoltas ocorridas durante o Período Regencial como Cabanagem, Sabinada, a Farroupilha, a Balaiada e a Praieira.
Também participou da Guerra contra Oribe e Rosas e, com a eclosão da Guerra do Paraguai, comandou as forças navais em operação na bacia do Rio da Prata, em apoio à diversas outras batalhas. Hoje, por sua trajetória, Tamandaré é patrono da Marinha.
Após a Proclamação da República, o então já Marquês de Tamandaré permaneceu fiel a Pedro II. Em reunião a sós com o Imperador, pediu-lhe permissão para que a Armada Imperial debelasse o golpe de Estado, o que lhe foi negado por D. Pedro. Aos 82 anos de idade, o último dos grandes militares monarquistas do passado ainda vivo (Duque de Caxias, marquês do Herval, almirante Barroso já haviam falecido), recusou-se a aceitar o fim da monarquia e permaneceu esperançoso da possibilidade de um contragolpe. Permaneceu ao lado da Família Imperial até ao seu embarque definitivo no navio Alagoas para o exílio.
Em seu testamento, se revela um homem simples e humanista. O inusitado do teor do texto é bem diferente do que se esperava de um homem ligado à guerra e acostumado à dureza de seu tempo, um discurso nessa linha. Ao contrário da visão belicista que marcou sua vida, seu testamento revela consciência, cidadania e mesmo a delicadeza, num pensamento digno de um grande homem do mar. A seguir, um trecho de seu testamento:
“Exijo que não se façam anúncios nem convites para o enterro de meus restos mortais, que desejo sejam conduzidos de casa ao carro e deste à cova por meus irmãos em Jesus Cristo que hajam obtido o foro de cidadãos pela Lei de 13 de maio. Isto prescrevo como prova de consideração a essa classe de cidadãos em reparação à falta de atenção que com eles se teve pelo que sofreram durante o estado de escravidão; e reverente homenagem à grande Isabel Redentora, benemérita da pátria e da humanidade, que se imortalizou libertando-os.
Exijo mais, que meu corpo seja conduzido em carrocinha de última classe, enterrado em sepultura rasa até poder ser exumado, e meus ossos colocados com os de meus pais, irmãos e parentes, no jazigo da família Marques Lisboa.
Como homenagem à Marinha, minha dileta carreira, em que tive a fortuna de servir à minha pátria e prestar alguns serviços à humanidade, peço que sobre a pedra que cobrir minha sepultura se escreva: ‘Aqui jaz o velho marinheiro’.
Almirante Joaquim Marques Lisboa”
Aos que se acham grandes, fica a lição de humildade.