Robert Scheidt, o velejador versátil para qualquer classe, até 2016
Por Local Comunicação
A vitória com Bruno Prada na 1ª edição da Star Sailors League nas Bahamas confirma Robert Scheidt como um dos mais completos velejadores dos últimos anos
Nassau (BAH) - Vencer uma competição tendo como adversários os melhores velejadores do mundo faz parte da rotina de Robert Scheidt há 20 anos. Na Star Sailors League Finals, nas Bahamas, além de viver novamente essa situação, conquistou o título da inédita competição ao lado de Bruno Prada, com um retrospecto de seis vitórias em 12 regatas, sendo que em nenhuma delas, chegou depois da quarta colocação entre as 18 duplas que iniciaram o campeonato.
Scheidt sequer teve tempo para comemorar o Mundial de Laser conquistado em novembro no Omã. Depois da vitória no Oriente Médio, ficou apenas três dias em casa com a família, em Garda, na Itália, e logo embarcou para correr no Caribe. "Ganhar o Mundial de Laser aos 40 anos foi, sem dúvida, o principal título da temporada e um dos mais importantes da minha carreira, pensando em meu próximo objetivo, os Jogos Olímpicos de 2016. Não esperava que 2013 seria tão bom", festejou o bicampeão e maior medalhista olímpico do País.
Prada também desenvolve campanha olímpica, mas na Finn e recentemente disputou o Mundial da classe. "Estamos em um ritmo acelerado de competições, por isso andamos bem. Mesmo correndo em classes diferentes, quando chegamos a Nassau para treinar foi só acertar as manobras. Essa foi a nossa vantagem e também foi ótimo estar ao lado do Bruno de novo. Ficamos juntos durante oito anos", recordou Scheidt que neste ano já havia vencido a classe Star na Semana de Vela de Ilhabela, em julho, com o parceiro.
Enquanto mantém o foco fixo nos Jogos de 2016, Scheidt sabe que terá de trabalhar de acordo com a capacidade de seu corpo. "O maior desafio na campanha para a Olimpíada será dosar os treinos e manter a motivação elevada. Não adianta treinar o tempo todo, preciso respeitar o corpo. Agora, por exemplo, é hora de dar uma respirada. Não consegui parar desde agosto, quando comecei a me preparar para o Mundial".
Quanto à motivação, o campeão da SSL não tem muito com o que se preocupar. Depois de cinco Olimpíadas, sempre frequentando o pódio, competir em casa pela primeira vez é o suficiente para se motivar, mas o entusiasmo tem uma fonte muito mais sólida. "Velejar, competir e ganhar é um sonho que eu alimento, por mim e pela minha família. Claro que também preciso respeitar meus patrocinadores, mas não corro pelo dinheiro e sim porque eu gosto". O suporte necessário para treinar e disputar campeonatos está assegurado até os Jogos do Rio. Os patrocínios com o Banco do Brasil e com a Deloitte seguem até 2016. O apoio da Rolex vai até 2015. Para a campanha olímpica, conta com suporte do COB e da CBVela.
Além de vencer, Scheidt se divertiu nas Bahamas ao lado de velhos amigos da Star e ficou entusiasmado com a realidade da nova Liga. "O Comitê Olímpico Internacional sempre pressionou a Isaf (Federação Internacional de Vela) para que as regatas deem mais audiência, mas vela é consistência, não adianta correr duas ou três regatas curtas. Tem de se fazer 12, 14 provas com um percurso técnico, mais longo e que ofereça condições de o velejador mostrar suas habilidades", recomendou o medalhista olímpico.
Talento reconhecido
O talento de Scheidt é reconhecido por adversários que têm plena consciência do que estão presenciando durante as regatas. O americano Paul Cayard, dono de sete títulos mundiais protagonizou com o brasileiro um dos duelos mais emocionantes do campeonato, com vitória de Scheidt por apenas dois segundos, em cima da linha de chegada, na oitava regata da primeira fase. "Robert é muito bom. Ele sabe o que está fazendo quando compete. Fica muito difícil vencê-lo".
O amigo e um dos responsáveis pela criação da SSL, Xavier Rohart, desde o início da competição nas Bahamas atribuía o favoritismo a Scheidt. O francês chegou ao Caribe como líder da SSL, mas resignou-se ao passar o bastão para o brasileiro. "Eu sabia que ele tinha grandes chances de ganhar. Depois que ele venceu o Mundial de Laser era certo que viria para tentar mais um título. É um prazer repassar para ele a liderança do ranking da SSL".
Scheidt e Prada receberam as medalhas de ouro e seus troféus das mãos de Dennis Connor, ganhador de cinco edições da mais tradicional competição da vela mundial, a America’s Cup. O lendário velejador americano não tem dúvida sobre a condição técnica de Scheidt. "Posso lembrar-me de dez grandes velejadores do mundo nos últimos cem anos, Paul Elvstrom, Lowell North, Ben Ainslie, Torben Grael. Sei que muitos me incluiriam entre esses nomes incríveis, mas para mim, Robert Scheidt é o melhor entre todos nos últimos anos". Além de levarem o troféu de campeão da SSL, Scheidt ganhou o Troféu Dennis Conner como melhor skiper da temporada e Prada recebeu a Taça Andrew ‘Bart’ Simpson, como o mais eficiente proeiro de Star em 2013.
De adversário a técnico
A vontade de atingir o máximo potencial nas regatas levou Scheidt a aproximar-se de quem pudesse ajudá-lo a evoluir. Ao longo das conquistas na classe Laser, durante vários anos esteve ao lado de Cláudio Bieckark, o amigo do Iate Clube de Santo Amaro, adotado como treinador. Depois vieram Walter Boddener e o irmão Thomas Scheidt. A partir de 2010, já vice-campeão olímpico de Star nos Jogos de Pequim com Prada, o campeão da SSL começou a trabalhar com o italiano Luca Modena, seu vizinho às margens do Lago de Garda, na Itália.
"Ele é um velejador fantástico. Sua dedicação quando se propõe a buscar um título ou uma medalha olímpica não tem limite. Antes da conquista do título no Mundial de Laser do Omã, passamos três meses treinando cinco dias por semana, duas horas e meia pela manhã e mais duas horas e meia à tarde. E ainda queria mais. Era ele no Laser e eu no bote, ao lado, posicionando as boias para as manobras", relembrou Modena exemplificando o esforço do bicampeão olímpico.
Ambos se conheceram em um Mundial em Cascais, Portugal. Eram adversários, mas costumavam treinar juntos. "Robert pedia para eu ajudá-lo a trimar (regular) as velas e assim começamos a treinar. Em 2010 ele pediu para acompanhá-lo profissionalmente na campanha olímpica para Londres", contou o velejador italiano. No ano seguinte Modena foi contratado pela Confederação Brasileira de Vela como técnico de Scheidt. Em 2012, ano olímpico, passou a trabalhar para o Comitê Olímpico Brasileiro até o final dos Jogos e neste ano foi novamente contratado pelo COB dois meses antes do Mundial de Omã.
"Além de talentoso, Robert é muito inteligente. Antes de retornar à classe Star para competir nas Bahamas, ele me chamou e disse que precisava resgatar a estrutura que elaboramos como preparação para Londres. Eu tenho todas as informações sobre ele Bruno, armazenadas, o que facilitou a readaptação e permitiu que velejassem como em 2011 e 2012, quando conquistaram dois mundiais e a medalha olímpica", considerou Modena, campeão italiano das classes Laser, Star e 49er.
Coletiva no Yacht Club de Santo Amaro, na quarta-feira (11)
Depois da sequência de competições dos últimos meses, Robert vai fazer o que mais gosta. Curtir o verão do Brasil e velejar em Ilhabela, preparando-se para as competições de 2014. O velejador chega a São Paulo na terça-feira (10) e dá entrevista coletiva no Yacht Club de Santo Amaro, às 10 horas da manhã do dia seguinte, quarta-feira (11).
Principais títulos de Scheidt e Prada na Star
Três títulos mundiais - 2007, 2011 e 2012*
*Além deles, só os italianos Agostino Straulino e Nicolo Rode venceram três mundiais velejando juntos, na história da classe
Duas medalhas olímpicas - prata em Pequim/2008 e bronze em Londres/2012
Principais títulos de Robert Scheidt na Laser
Onze títulos mundiais - 1991 (juvenil), 1995, 1996, 1997, 2000, 2001, 2002*, 2004 e 2005 e 2013
*Em 2002, foram realizados, separadamente, o Mundial de Vela da Isaf e o Mundial de Laser, ambos vencidos por Robert Scheidt
Três medalhas olímpicas - ouro em Atlanta/1996 e Atenas/2004, prata em Sydney/2000