Antonio Alonso: Análise da quinta regata revela erro do Oracle

 

Um erro crasso de cálculo custou mais uma derrota aos americanos

A quinta regata da America's Cup teve um desfecho bastante peculiar. Tudo indica que os americanos erraram feio nos cálculos e apostaram em uma regulagem que tornava o barco muito veloz no popa e terrivelmente lento no contravento. Resultado: sofreram a pior lavada já vista nesta série final, chegaram um minuto atrás dos kiwis (toda essa diferença construída no contravento). A derrota foi tão estonteantes que os americanos usaram mão de um artifício da regra para não correr a sexta regata, que começaria logo em seguida.

O vento estava variando bastante, com muitas rajadas, e média entre 17 e 23 nós. Ao contrário do que aconteceu em todas as outras largadas, desta vez o Oracle se posicionou a barlavento, como "blocker", deixando o TNZ como "pusher", a sotavento. Aqui vou fazer uma breve explicação. A largada com timing perfeito na Vela acontece quando um barco chega com velocidade à linha e a cruza um átimo de segundo antes de soar o sinal. Ora, quem está atrás (a sotavento), tem condições de empurrar o veleiro da frente (a barlavento) para que ele queime a largada. Por sua vez, quem está na frente pode bloquear o adversário, fazendo com que ele se atrase na largda. Por isso essa relação entre bloqueador (blocker) e pusher (empurrador).

Outra vez, pedi ajuda aos dados coletados e à análise do professor Jorge Perez Patiño para destrinchar o que aconteceu.

Houve um pequeno duelo de cambadas, sem grande agressividade. Os kiwis tentaram a todo custo não ficar a sotavento do layline na bóia de bombordo da linha de largda. Estava claro que ambos pensavam mais na aceleracão dos últimos segundos, do que em lutar e colocar em risco algum material.

Cerca de cinco segundos antes do sinal, os dois pisaram fundo no acelerador e, logo nos primeiros dois segundos da largada os kiwis colocavam sua proa alguns centímetros à frente dos americanos. Mas o Oracle pareceu ativar o turbo e velejavam dois nós mais próximos que os adversários, avançando e tomando a liderança.

Os americanos montaram a primeira boia 3,7 segundos à frente (nesta primeira perna fraca, cada segundo equivale a um comprimento de barco considerando a velocidade em que esses catamarãs navegam). No primeiro popa não houve grandes surpresas, e o Oracle se firmou com cerca de 140 metros de vantagem.

Ao se aproximar do portão de sotavento para começar o contravento, os microfones a bordo do Oracle capitaram claramente "foiling tack, OK?". Provavelmente já sabendo que eles seriam mais lentos no contravento, tentaram esse foiling tack, que foi um desastre. Aqui peço ajuda ao professor Patiño: Desde o nascimento da tática de regatas com Manfred Curry, em 1925, está claro que é pouco recomendável orçar e imediatamente contornar uma boia, a menos que exista uma razão muito poderosa para isso. Os americanos treinaram essa manobra no dia anterior e Patiño lembra que os kiwis chegaram a fazê-lo em uma regata contra o Prada pela Louis Vuitton Cup.

Na manobra, os americanos viram a velocidade diminuir cerca de 10 nós, enquanto os neozelandeses vinham lançados em velocidade, orçavam levemente e faziam a montagem uns metros a diante, sem direito de passagem. Aparentemente os americanos, que contam com o local John Kostecki como tático, que velejou toda vida nessa baía, se apressaram para se colocar abrigados pela ilha de Alcatraz, que protege contra a corrente crescente que neste momento era de dois nós.

Ao olhar para as rotas no GPS, é possível ver como os kiwis conseguiram a mesma coisa, aproveitando a extensão da proteção que a ilha proporciona, e daí seguiram em direção à ilha. Já os americanos, chegaram mais rapidamente aos limites da raia e tiveram de cambar. Nessa sutuação, os kiwis já haviam dimiuído praticamente toda a diferença e navegavam a sotacorrente da ilha, enquanto os rivais cruzavam a parte mais forte rumo à costa oposta.

A partir dali os neozelandeses mostraram mais velocidade (em algumas vezes dois nós a mais) que os americanos e também orçavam mais. Não foi surpresa quando os computadores mostraram uma vantagem de mais de 300 metros para os kiwis, que montaram o portão de barlavento com 1min17seg de vantagem. Inalcançáveis, embora os americanos, mais rápidos no popa, tenham descontado 13 segundos na perna final.

Foi assim que os neozelandeses conquistaram o quarto ponto.

Cientes de que estavam no caminho errado, os americanos usaram seu direito de adiar uma regata. Cada barco pode fazê-lo somente uma vez em toda a série, e apenas para a segunda regata do dia. A regra foi pensada para que as equipes possam fazer reparos, mas serviu num momento  em que as condições eram claramente mais favoráveis ao TNZ.

Na coletiva de imprensa, pressionado pelos jornalistas, o skipper do Oracle James Spithill confessou que não poderia assegurar que John Kostecki seguiria como tático da equipe.

Nesta quinta devem acontecer as regatas 6 e 7, com transmissão pela internet e pela ESPN.