ARTIGO: Os velhos da Isaf vão acabar com a Vela, Antônio Alonso
Fonte: Blog Sobre as águas
Segue a íntegra da coluna que escrevi para a última edição da revista Boat Shopping:
Os velhos da Isaf não sabem brincar. Mas não se cansam de tentar. Nos mais de 10 anos em que venho acompanhando profissionalmente a Vela no Brasil e no mundo eu tenho visto a Federação Internacional de Vela insistentemente criar novas regras, novos formatos, sugerir novas classes olímpicas... tudo em nome da inovação e da juventude, que estaria se afastando da Vela em busca de esportes mais "radicais". E não canso de me impressionar com as péssimas ideias que vêm de lá.
A mais recente mudança nas regras transforma as primeiras regatas de uma competição em brincadeira. É como se metade da competição valesse como uma única regata. Depois então você tem uma série "normal" e duas Medal Race, cada uma valendo pontos em dobro. Robert Scheidt, dono de cinco medalhas olímpicas tem insistido no tema: estão transformando a Vela em um jogo de azar. A troco de quê? Eu duvido que jogar toda a "emoção" da disputa para as últimas regatas vá fazer o esporte mais querido. Mais do que isso: duvido que privar o esporte de seus ídolos vá fazer qualquer bem ao iatismo. Sim, porque conforme a sorte se torna um fator importante, os grandes velejadores, os mais regulares e precisos, vão sumir do pódio. Simples assim.
São cabeças velhas tentando pensar o novo. Não funciona.
Ao lado dessa mudança eu posso me lembrar de várias outras lambanças. A Isaf permitiu — e até facilitou — a exclusão da classe Tornado das Olimpíadas. Naquele momento, o Tornado era o único catamarã olímpico, barco extremamente esportivo (radical, se quiserem) e representava uma parte expressiva dos velejadores pelo mundo. Para consertar a besteira, tiraram a classe Star, justamente a classe dos maiores nomes da Vela mundial (mais uma vez, afastando os ídolos do esporte). Sorte foi o fracasso da tentativa de tirar o windsurf dos Jogos. Alguém sugeriu trazer o kitesurf para a Olimpíada. Ótima iniciativa. Mas, para atender ao pedido, a Isaf tentou tirar exatamente a classe mais popular entre os jovens do mundo todo. Só uma cabeça velha para inovar assim.
Eu estou bem longe de ser um conservador. Mas não fico contente ao ver a America's Cup em catamarãs fantásticos que capotam graciosamente. Eu preferia as batalhas táticas de Auckland, que hoje podem ser muito melhor explicadas e entendidas, com GPS, computação gráfica e internet. Não fico feliz ao ver a Star fora dos Jogos, e muito menos ao ver a "sorte" virando um fator importante na disputa olímpica. A Vela não vai morrer, mas a Isaf está perdendo uma grande oportunidade de modernizar a competição pelo lado certo: usando a internet e criando ferramentas de divulgação da nova geração.
Eu não espero nada mais dessa geração de dirigentes da Isaf. Só quero que a próxima chegue logo.