Classe S40 se consolida na Rolex Ilhabela Sailing Week
São 12 barcos, 5 do Brasil, 5 do Chile e 2 da Argentina. Maior evento náutico da América Latina termina neste sábado
Por Flávio Perez - ZDL (SP)
Ilhabela (SP) - Em meados de 2008, três velejadores sentavam no Yacht Club de Ilhabela para conversar sobre um novo barco. Eles desejavam competitividade, velocidade, leveza e tecnologia, para estabelecer uma classe one design - sem rating. Eram os dias seguintes ao final da Rolex Ilhabela Sailing Week daquele ano, principal evento náutico da América Latina.
Foi neste cenário clássico do iatismo que os argentinos José Esteves e Norberto (Beto) Alvarez, acompanhados pelo brasileiro Eduardo Souza Ramos, firmavam os primeiros pilares para a fundação daquela que viria a ser a classe S40.
No Warm Up da Rolex Ilhabela Sailing Week de 2009, os primeiros barcos do projetista Javier Sotto Arcebal estreavam nas águas do canal de São Sebastião, juntando-se nas raias do litoral norte paulista aos já tradicionais one design HPE.
"Começamos a conversar sobre a classe ainda em 2008, quando o Estevez e o Alejandro estiveram aqui em Ilhabela e apresentaram o projeto. Um ano depois, com muita rapidez, já éramos quatro S40 na raia", lembra Eduardo Souza Ramos, proprietário do Pajero.
A classe fez sucesso imediato e chamou a atenção em sua primeira competição. Modernos e técnicos, os S40 passaram a seduzir, desde então, cada vez mais proprietários.
"O S40 é fantástico. Um barco de resposta muito rápida. Isso exige um alto nível de velejada. A cada ano, estamos aprimorando e aprendendo com o barco. E ele sempre nos mostrando novas possibilidades", conta Beto Alvarez, proprietário do Patagonia.
Torben Grael comanda o S40 Magia V-Mitsubishi/Gol. Ele explica o interesse pela categoria: "Poucos barcos no mundo proporcionam uma disputa tão boa, competitiva, com alta qualidade técnica e prazer de velejar como o S40".
O filho de Torben, Marco Grael, também está a bordo na Rolex Ilhabeila Sailing Week. Ele fez uma pausa em sua campanha olímpica pela 49er para ser timoneiro na embarcação do pai: "O S40 tem uma velejada bem parecida com o 49er", avalia.
Melhores da América Latina - Beto resume a força que a classe adquiriu: "A S40 tem se tornado muito, muito técnica. Conseguimos reunir, aqui na Rolex Ilhabela Sailing Week, os melhores velejadores da América Latina. Temos ainda atletas norte-americanos, olímpicos, do circuito europeu de TP 52. Acredito que temos na S40, aqui em Ilhabela, entre 20 e 25 títulos mundiais distribuídos entre as tripulações."
É de fato uma característica da competição no litoral paulista reunir grandes nomes do iatismo. Não à toa, Ilhabela ostenta o título de Capital Brasileira da Vela, fato que vem ao encontro dos objetivos da S40.
O comandante do Patagonia prossegue: "Isso permite que aqui estejam, lado a lado, nomes como Eduardo Souza Ramos, maior vencedor da Rolex Ilhabela Sailing Week, Torben Grael, maior medalhista olímpico do mundo, Dee Smith (EUA), que disputou a America´s Cup, Eduardo Penido, também medalhista olímpico! A classe torna-se realmente muito forte aqui", dimensiona.
Dentre essa seleção listada por Beto ainda constam nomes como Gastão Brun e John King velejando no Carioca, Alexandre Paradeda, André Fonseca, Gustavo Thiesen pelo Loyal, Mariano Caputo, Guillermo Parada, Juan Pablo Cadario, Victor Torres Guilhermo, e a lista segue.
Samuel Albrecht, gerente e tático do Crioula, concorda: "Sem dúvida, a classe oceânica cresceu muito nos últimos dois anos em função do S40. A classe proporciona um ótimo meio para se trabalhar e se profissionalizar. Em todos os barcos temos velejadores de alto nível. Hoje temos uma flotilha aqui na Rolex Ilhabela Sailing Week de 12 barcos. Com certeza, vai crescer ainda mais", aposta.
Eduardo Souza Ramos diz como é empreender uma classe nova com sucesso: "No começo tem de investir muito. São poucos barcos e novidade geralmente assusta, então é difícil. É um trabalho de investimento. Mas o S40 é um barco muito moderno, competitivo, exige bons velejadores e proporciona diversão. Então, acho natural que as pessoas se interessem mais e mais pela classe", analisa.
Armada chilena - Antes relegado a Brasil, Argentina e uma embarcação do Uruguai, o S40 conquistou também os corações chilenos. Nada menos do que cinco barcos presentes na Rolex Ilhabela Sailing Week são do país andino.
Pablo Despotin, comandante do Pisco Sour, embarcação estreante nas águas de Ilhabela, conta sua experiência: "O S40 é um outro nível; um nível muito difícil e competitivo. Eu acho que quem toma a decisão de saltar para o S40 está agindo corretamente". Ele vai além: "Acho que o número de barcos na classe vai crescer rapidamente. Penso que haverá embarcações ainda em outros países, como Peru, Equador... É uma revolução que quanto mais cedo chegar, melhor".
Outro comandante chileno em Ilhabela é Horacio Paves, do Mitsubishi/Acuario II. "Percebemos no S40 a facilidade de migração rápida para uma classe one design. Isso nos animou a competir, e já somamos 12 modelos no Chile".
Seu conterrâneo Despotin acrescenta: "No Chile, não temos tantos velejadores. Mas quase todos os que temos são extremamente bons. O S40 então proporciona para estes velejadores um nível de competitividade que eles procuram para disputarem regatas em alto estilo".
O argentino Norberto, que também é presidente da classe, comenta: "Acredito que esse fenômeno pode se estender a outros países, porque a competitividade do S40 chama muito a atenção". Os outros três chilenos nas águas do canal de São Sebastião são VTR (Ogum), de Guilherme Ponce, Nuevo Maestra, de Arananda Maturana e Macaco, de Dag Von Appen.
"O Soto 40 é uma máquina de regatas", define seu progenitor. "Reunimos tudo o que há de melhor ao redor do mundo neste barco", diz Acebal.
Na oportunidade de criação da classe, Beto dizia: "Queremos chegar na Rolex Ilhabela Sailing Week de 2010 com oito barcos". Chegaram com nove. E saltaram para 12, em 2011. É bem possível de se imaginar uma Rolex Ilhabela Sailing Week 2012 com um número ainda maior de S40, reunindo novamente o que há de melhor do mundo náutico.
O principal evento náutico esportivo da América Latina reúne até este sábado (9) 152 barcos do Brasil, Argentina, Chile e Catar. O evento tem patrocínio titular da Rolex e patrocínios ouro da Mitsubishi Motors e da Semp Toshiba e prata do Bradesco Private.
O evento tem apoios da Marinha do Brasil, da Confederação Brasileira de Vela e Motor (CBVM), das Classes ORC, S40, HPE25 e BRA-RGS, e parcerias do Yacht Club Argentino (YCA), da Prefeitura Municipal de Ilhabela(PMI) e da Brancante Seguros. A organização, sede e a realização são do Yacht Club de Ilhabela.