Canoas havaianas no Guaíba

Fonte: Estilo Próprio, Fernanda Zaffari

Canoas diferentes, feitas em duas partes, em que seus ocupantes usam, cada um, apenas um remo. As canoas havaianas deslizam pelas águas do Guaíba desde dezembro passado com uma suavidade que empolga. Admirando-se a partir da terra firme, remar de uma ilha a outra do Guaíba, quase esquecendo que é esporte e só curtindo o passeio, parece fácil, muito fácil. E não é que é mesmo?

 


– Um dos grandes baratos é que qualquer um rema já no primeiro dia. Não precisa ser atleta, não precisa um treinamento específico
– explica Paulo Prass (de camiseta preta na foto abaixo), grande incentivador da prática no Estado.

Paulinho, como é conhecido no circuito esportivo, acaba de abrir o primeiro Núcleo de Canoas Havaianas do Rio Grande do Sul. E ele é mais do que um incentivador, é um especialista: foi treinador da equipe brasileira de remo nos Jogos Olímpicos de Atlanta e medalhista nos Jogos Panamericanos de Mar del Plata. Durante muitos anos, treinou as equipes de remo e chefiou o departamento de esportes do Grêmio Náutico União.
– Achei que esta também era uma maneira de trazer o porto-alegrense para mais perto do Guaíba – justifica.

Paulo se empolgou com a primeira canoa de um usuário que viu no Estado.
Vislumbrou uma boa oportunidade, correu para São Paulo, onde a prática é bem mais popular,
aprendeu as técnicas e ajustou os materiais para agora, neste verão, abrir o Walea – seu núcleo com sede na Ilha Grande dos Marinheiros.


A primeira canoa foi comprada em outubro, depois que Paulo aprimorou seus conhecimentos com um dos pioneiros das canoas havaianas no país. O equipamento nos moldes atuais, feito em fibra,bem leve, desembarcou no Brasil apenas nos anos 2000 – o que certifica que, no país, a canoagem havaiana é ainda uma novidade.

– Optei por batizar meu espaço de núcleo e não de escola ou academia. Não foi capricho, mas algo bem planejado. Escola dá uma ideia mais infantil, e academia lembra sempre um lugar fechado. Aqui quero unir esporte, lazer e família.

Paulinho enfatiza o lazer e família porque tem investido justamente em equipamento que atenda a essas características. O interessado pode fazer aula individual ou em grupo.
Pode também só sair para passeios, tours pelas águas, sem grande esforço físico, curtindo a natureza para desbravar as ainda pouco exploradas ilhas do Delta do Jacuí.

– Há lugares por esta região que, se a gente bate uma foto e mostra para alguém, a pessoa
jura que é algum outro roteiro famoso de turismo no Brasil.

Parceiro dos tempos de equipe de remo do União, Marcílio Moita, hoje sócio em uma construtora, também está empolgado com a nova técnica. Tanto que aceitou o convite para competir em uma prova com um percurso de 75 quilômetros no ano que vem, em São Paulo.

– Claro que é lazer, mas não adianta, a gente se empolga – confessa Marcílio.

Mesmo se apresentando como um ex-atleta, Marcílio – mais de 20 vezes campeão gaúcho de remo, com regatas internacionais no currículo, inclusive no Japão, e bicampeão brasileiro – diz que é difícil se manter longe das competições.

Paulo Prass, em seu núcleo Walea, também dá aulas de stand up, a espécie de prancha em que o usuário fica em pé e também utiliza um remo. Mas o modismo da hora, e não só para este verão, ele garante, é a canoa havaiana.

– Como é fácil de remar, a pessoa escolhe se quer usar apenas para lazer ou como esporte, intensificando a velocidade das remadas – ensina.

Pensando no público amador, se assim puder ser chamado, o núcleo de canoagem montou
programas diferentes. Há passeios individuais, em dupla e para grupos com seis pessoas. Em qualquer das opções, os cuidados com a segurança são rígidos. Paulo acompanha os passeios, dá as aulas e orienta os alunos, que só caem na água se estiverem devidamente equipados com coletes salva-vidas.


E antes que alguém ache que a canoa não vira, apesar de ser mais estável por ter duas partes conectadas, se enganou.
– É mais estável, mas também vira. Mas aqui, a água é limp
a – tranquiliza Paulo.

As canoas havaianas são uma obra de engenharia que nasceu em harmonia total com a natureza. O barco milenar, usado pelos povos da Polinésia para desbravar ilhas, antes era feito de material rústico e usado como eficiente meio de transporte. Nos tempos de hoje, foi transformado em outro material mais leve e resistente, a fibra – assim a canoa de um lugar pode ser levada para a água por apenas uma pessoa, pois pesa 12 quilos.

– Estou preparando também para usar a canoa havaiana para treinamento de empresas, num trabalho mais corporativo. Paulo explica que, na canoa para seis pessoas, cada um da equipe tem uma função, e a travessia só flui se todos estiverem em sintonia. Alguns comandos
são “cantados” pelo coordenador. Para entrar mais no clima, todas as instruções são ensinadas em havaiano
.

Essa prática ainda deve ganhar mais espaço nos próximos anos. Com a perspectiva de crescer
muito em outros Estados, como já acontece em São Paulo, a canoagem havaiana vai ser esporte de apresentação na Olimpíada de 2016.

– Acho que em breve ela será oficializada como um esporte olímpico – prevê Paulo.