Murillo Novaes entrevista skipper do Puma com exclusividade
Fonte: blog Murillo Novaes
A coluna fez uma entrevista exclusiva com Ken Read, comandante do Puma, ainda em alto mar, rumo a Itajaí. Confira abaixo o que o americano nos disse:
Murillo Novaes: Esta é a segunda vez que você está participando da VOR. Quais são as maiores mudanças nesta edição? E na sua equipe?
Ken Read: Não há grandes mudanças, apenas coisas sutis. Todos os times melhoraram. A maior diferença são os orçamentos – todos estão meio parecidos. Não há uma equipe muito grande, como o Ericsson – uma equipe com dois barcos e um orçamento quatro vezes maior do que o dos outros times. Todas as equipes nesta edição estão com um orçamento parecido e a competitividade das equipes e barcos, além do tempo gasto na água antes da regata, também são bem parecidos. Isto faz desta, uma regata mais parelha, com muitos barcos parecidos. Desta vez é uma regata diferente.
MN: Nós sabemos que a regata hoje em dia é uma grande plataforma de marketing e você está no comando de um time com o suporte de uma grande marca. Como um velejador, às vezes você sente que a velejada em si é afetada de alguma forma pelas necessidades comerciais de um evento como este?
KR: Patrocínio e relação comercial fazem parte dos esportes agora. Nós vivemos em um novo mundo. Os mercados que atingimos com esta regata não são importantes apenas para a Puma, mas para todos os patrocinadores da Volvo Ocean Race e nós somos gratos pelo apoio deles. Eu estou no mercado tanto de vencer uma regata quanto de vender roupas e sapatos. Sem os nossos patrocinadores nós não estaríamos aqui e não seria possível fazer o que amamos.
MN: Agora, apesar de alguns tripulantes machucados, o Puma, a lado do Groupama (nota: os franceses ainda não haviam quebrado o mastro), é um sobrevivente da carnificina dos mares do sul. Isto é sorte ou preparação? Quais você acha que foram as razões para tantas quebras nesta edição?
KR: Há muita sorte envolvida nesta perna da regata. A onda errada na hora errada pode quebrar muito. Nós tivemos um pouco de sorte e muita habilidade marinheira. Em alguns momentos nós percebemos que a situação poderia ser um pouco perigosa demais para o barco e demos uma segurada. Por sorte os caras que se machucaram já estão curados e nós estamos sãos e salvos. Nós só desejamos o melhor para toda a flotilha.
MN: Você tem um passado forte em pequenos barcos de quilha e alguns bons resultados nas classes J/24 e Etchells, assim como campanhas na Copa América. Que coisas você teve que mudar na velejada para se adaptar a um VO70? Você, de algum modo, sente saudade das regatas barla-sota?
KR: Não é necessariamente barla-sota versus regata longa. É mesmo o estilo de se velejar. Nós crescemos velejando de J/24 e Etchells – mais balões, pau de spinnaker e ângulos profundos. Assim como os barcos evoluíram – Melges 24, TP52 e barcos como estes – nós também evoluímos com eles como velejadores. Felizmente eu meio que vi isto acontecendo e pulei fora dos J/24 e dos Etchells para os Melges e TPs e esta experiência com certeza me ajudou na adaptação ao estilo de velejada do Volvo70.
MN:Como um líder de equipe você tem que desenvolver muitas habilidades. Quais você acha que são as coisas mais importantes que você tem que ter para liderar uma iniciativa como esta?
KR: Você tem que ser paciente e não se pode ser um microgerente. É preciso contratar as melhores pessoas que você encontrar e deixá-los fazer o seu trabalho ao invés de ficar mandando. Acho que se eu fiz alguma coisa certa foi contratar as melhores pessoas e deixá-las fazer seu trabalho.
MN: O Puma é o 4º colocado na tabela. Você tem alguns truques na manga para o final da regata? Você acha que esta edição está mais competitiva do que a última?
KR: É uma edição mais competitiva porque os orçamentos das equipes estão mais parecidos e os times se tornaram mais parecidos e como consequência, mais preparados. Nós não temos nenhum truque, mas planejamos continuar melhorando em cada etapa e acho que estamos conseguindo. Nosso contratempo no começo da regata, com a quebra do mastro, custou muito e certamente afetou a nossa classificação e a nossa habilidade de fazer o barco ir mais rápido. Agora nós pegamos um pouco de ritmo e estamos melhorando sempre – isto é o que esperamos. Se este for o caso, então bons resultados acontecerão.
MN: Você está vindo para o Brasil. Alguma lembrança especial do nosso país? Alguma mensagem para os fãs brasileiros?
Vocês vão ver um bando de caras muito cansados, mortos de fome e que estarão desesperados por uma cerveja gelada (risos). Sabemos que haverá uma multidão entusiasmada esperando por nós quando chegarmos e nós estamos ansiosos para chegar em Itajaí.