Cisne Branco pode deixar de transportar turistas em Porto Alegre

Fonte: Correio do Povo

Presente na área do Cais Mauá há duas décadas, o tradicional barco Cisne Branco pode deixar em breve a orla do Guaíba, em Porto Alegre. O motivo da saída é uma notificação enviada pela Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH) em razão de uma determinação da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), estabelecendo que nenhuma empresa poderá permanecer nos armazéns do cais, já que o projeto de revitalização prevê a entrega do local desocupado.


Mas, provavelmente na próxima semana, após o feriado, o impasse poderá ter um desfecho, ainda desconhecido. "Não conseguimos admitir como os governantes e o próprio Consórcio Porto Cais Mauá pensam em revitalizar o Porto, devolvendo o lago para a cidade, sem embarcações de turismo que fomentem a atividade no local e podem contribuir para que a população usufrua de nosso manancial hídrico", diz, inconformada, a proprietária da embarcação, Adriane Hildig.

Segundo ela, se nada for feito, o barco, que transporta cerca de 4 mil pessoas por ano, deixará de prestar o serviço de turismo. Adriane conta que a prefeitura, via Secretaria de Turismo e Gabinete de Assuntos Especiais (GAE), está tentando encontrar novo local no projeto Orla, mas a tarefa não é simples nem rápida. "O prazo para ficarmos no Cais expirou na segunda-feira, mas o município intercedeu e ainda estamos aqui, por um tempo não sabido", afirmou a proprietária.

O secretário do GAE, Edemar Tutikian, confirma a informação. "Solicitamos prorrogação do prazo para desocupação do espaço, tendo em vista as negociações que a prefeitura vem fazendo para buscar novo local. Mas não podemos atuar na área que não nos pertence", diz Tutikian. Segundo Adriane, que também é vice-presidente da Associação do Turismo Náutico do Estado, não há outro lugar que o barco possa ir além daquele em que já está.

Ele avalia que não é possível atracar junto à Usina do Gasômetro com os demais barcos, pelo tamanho e pelo baixo calado (profundidade do canal). "Nos traz preocupação essa medida, pois a situação está contornada por enquanto, mas não sabemos como honrar nossos compromissos, já que não temos certeza do futuro. De qualquer forma, essa ação vai eliminar um ponto de embarque e desembarque do turismo fluvial que vem sendo trabalhado há 20 anos e limitar a atividade do turismo náutico a embarcações menores que o Cisne Branco", explica Adriane.

A SPH afirma em nota que, se a secretaria não cumprir a determinação da Antaq, o Estado poderá ser multado em até R$ 200 mil. Pelo contrato de revitalização, não é mais possível a exploração dessa área nem pela secretaria nem pelo consórcio que administrará o local. A SPH diz que tem procurado solucionar o impasse.

Projeto vai passar por avaliações


A Prefeitura de Porto Alegre recebeu, nesta semana, o projeto de paisagismo e arquitetura da revitalização da Orla do Guaíba produzido pelo escritório Jaime Lerner. Antes da licitação para a contratação da obra, o projeto passará por avaliações de diversas secretarias municipais, como de Meio Ambiente, Indústria e Comércio, Obras, Planejamento, Cultura e Esporte. Apesar de ainda não ter valor definido, todos os custos do projeto serão cobertos pela prefeitura.

Ao todo, a revitalização da Orla do Guaíba compreende uma extensão de 5,9 quilômetros, mas a primeira etapa do projeto abrange 1,5 quilômetro, com início na Usina do Gasômetro e seguindo no sentido da zona Sul.

O prefeito José Fortunati afirmou que depois da análise de viabilidade pelas secretarias a licitação deve ser lançada. A expectativa é que isso ocorra até o fim de julho, com o início das obras ocorrendo no segundo semestre.

O urbanista Jaime Lerner afirmou que o objetivo do projeto, denominado "Parque Urbano da Orla do Guaíba", é valorizar a relação da população com a orla, em especial com o pôr do sol, considerado o cartão-postal da cidade. Para Lerner, não foi um trabalho fácil, pois trata-se de uma região emblemática que reúne diferentes públicos.

Ele explicou que a parte mais complicada foi a área do píer, onde ficarão os barcos de passeio e uma bilheteria. Outro cuidado especial, segundo Lerner, foi destinado à praça Júlio de Castilhos, muito utilizada pelos moradores da região central. "Não poderíamos fazer nenhuma mudança drástica, então tivemos alguns cuidados, de maneira a melhorar o aproveitamento do local", explicou.

Muita água e pouca visibilidade

Porto Alegre tinha muita água, mas poucos podiam desfrutar disso, a não ser os sócios de clubes náuticos ou pescadores. O nascimento do Cisne Branco foi a oportunidade de os porto-alegrenses e turistas poderem desfrutar das águas do Guaíba, em vez de apenas contemplá-las. A empresa de turismo Orgatur foi a responsável por viabilizar a iniciativa, com apoio do Serviço Municipal de Turismo, que viraria depois Epatur e atualmente é Secretaria Municipal de Turismo.

Houve duas inaugurações do barco, que começou a ser construído em 1976. A primeira foi a viagem Porto Alegre - Rio Pardo, em que o então secretário estadual de Turismo, Mário Bernardino Ramos, participou e aprovou. A outra, num dia cálido de março de 1978, teve a bordo a música de Plauto Cruz. O Cisne Branco, por seus idealizadores Gabriel e Alfonso Hildig, venceu muitas guerrilhas e etapas. Graças a eles, a empresa então localizada na esquina da General Câmara com Andrade Neves, conseguiu "vender" a Capital a turistas que queriam conhecer o Guaíba. Agora, perdem para uma Parceria Público-Privada, liderada por espanhóis.