Eduardo Souza Ramos, maior incentivador da Vela no Brasil, anuncia aposentadoria
Por Antonio Alonso - Blog das Águas
A Semana de Ilhabela deste ano pode ter sido a última competição de Eduardo Souza Ramos. Foto: Carlo Borlenghi/Rolex
"Acabou". Assim começa uma mensagem que Eduardo Souza Ramos enviou a um grupo de colaboradores. O maior incentivador individual da Vela no Brasil anunciou no início desta semana sua aposentadoria. Aos 68 anos, Eduardo Souza Ramos deixou uma marca permanente na Vela brasileira. Maior vencedor da Semana de Ilhabela, com 9 títulos, e porta-bandeira do Brasil nas Olimpíadas de 1984, em Los Angeles, ele é o grande responsável pela cara da Vela de Oceano no Brasil. Foi Eduardo Souza Ramos quem trouxe ao país quase todos os grandes barcos da classe ORC. Cada vez que fazia uma de suas frequentes trocas de barco, deixava a flotilha brasileira mais forte. Ele criou a classe HPE e teve papel fundamental no sucesso da S40 e até no surgimento da C30, que só existe porque houve o exemplo dado pela S40.
Na mensagem, Souza Ramos lembra que sua história soma "50 anos de Vela, 17 Brasileiros, 3 Sul Americanos, 1 Europeu, 1 Prata no Pan, 2 Olimpíadas, Presidente da Federação de São Paulo e da Confederação, criação de um Clube, criação de uma Classe, diversos eventos, Hollywood, Pré Olímpica Atlântica, Mitsubishi Sailling Cup, 9 vezes Semana de Ilhabela e sei lá mais o que". Tudo isso, "somado aos 68 anos de idade, me levam à aposentadoria".
O balanço ainda esconde o patrocínio de suas empresas a velejadores olímpicos e a eventos regionais, como a Copa Suzuki Jimny em Ilhabela. Não há dúvida, mesmo entre os críticos, que ele é "o" empresário da Vela no Brasil.
Esse anúncio vai despertar muita conversa e muitas versões. Pelo comunicado, Souza Ramos diz que o momento exige um investimento gigantesco de suas empresas nos próximos dois anos, "um super desafio". Como o governo está sobretaxando as importações de automóveis, Mitsubishi e Suzuki, montadoras que pertencem a Souza Ramos, precisam aumentar muito a fabricação em território nacional.
Mas há outro fator que pode ter pesado muito nessa decisão, e foi justamente a polêmica com o título da Semana de Vela de Ilhabela deste ano (leia mais aqui). Souza Ramos foi acusado de ter permanecido na raia e velejado para prejudiar um adversário direto, mesmo depois de ter sido desclassficado por queimar a largada. Souza Ramos teria ficado desanimado após as duras críticas e a acusação de que teria feito jogo sujo de maneira deliberada.
Eu sou um entusiasta da renovação na Vela. Sou desses que acha que o sucesso antigo faz mal ao desenvolvimento. Não estou sozinho nisso. A política internacional tem um nome para isso, a maldição dos recursos (Resource curse) ou o paradoxo da abundância. Mas eu estou seguro de que a saída de Souza Ramos de cena não será boa para a Vela basileira. Será um "super desafio".
Por fim, eu não sei se acredito nisso. Ele é um apaixonado e as despedidas dos apaixonados costumam ser numerosas.