Paul Henderson aponta fatos que estariam colaborando para o fim da Vela

Fonte: Scuttlebutt e blog Sobre as Águas

O editor do site Scuttlebutt Craig Leweck e Paul Henderson, ex-presidente da Isaf publicaram uma lista sobre coisas que estariam contribuindo para a morte da vela. O Blog sobre as águas do Antônio Alonso fez a tradução dessa lista que aponta as causas para que a vela tenha decaído nos útimos 40 anos:


"Publicada originalmente no divertido e respeitado blog Scuttlebutt, a opinião de um ex-presidente da entidade máxima da Vela dá o que pensar. Aqui vai um resumo dos 10 pontos. Quase todos eles se encaixam bem com o que vivemos aqui no Brasil:

1) A brincadeira ficou cara demais (mesmo lá fora). Ele cita preços do J/24 e do Melges 20, mas aqui no Brasil, o Nacra 17 (semelhante ao Hobie Cat) pode chegar a custar mais de R$ 120 mil. Não à toa, o Brasil não tem ninguém velejando nessa classe ainda. Henderson diz que, na sua época, a regra era simples: "seu barco de regatas não pode custar mais caro que o carro da sua mulher"

2) Infidelidade. Cada hora aparece uma classe nova, com promotores querendo convencer todo mundo a velejar no novo barco, mas o sentimento de classe é perdido. "Antigamente", diz ele, "as classes eram como irmandades: Star, Snipe, Lightning, Soling..."

3) Essas classes eram para 2 ou 3 tripulantes, não para 8-10 anônimos empoleirados no guarda-mancebo de um 40 pés pago por algum milionário do mercado financeiro querendo parecer esportivo.

4) Os iate-clubes esqueceram sua razão de ser e impõem a condição de que as regatas sejam agora eventos lucrativos, às custas do velejador.

5) Quando qualquer festa de formatura no meio da semana é mais importante do que a regata do sábado, estamos encrencados

6) Façam as regatas locais divertidas, e esqueçam a ideia de viajar como ciganos todo fim de semana

7) Crie regras de classe rígida e as faça valer.

8) Optimist. Excelente para treinar crianças, mas não dá pra deixar um adolescente de mais de 15 anos competir no mesmo barco que crianças de seis. Crianças grandes acabam desmotivadas e deixam o esporte. Além disso, adolescentes querem diversão e ficar perto de gente de sua idade. Henderson diz que tentou limitar a Optimist para crianças de até 13 anos quando era presidente da Isaf, mas foi impedido pelos Opti-pais

9) Barcos de uma pessoa e barcos com trapézio. Para Henderson, falta espaço para as pessoas que gostam de tripular, e pede mais barcos de 2 ou 3 pessoas. Trapézio, para ele, cria bizarrices: um timoneiro minúsculo, com um tripulante magrelo e com uma cabeça grande.

10) Com a retirada dos barcos de quilha (Star), as Olimpíadas viraram uma regata infantil ditada pelo COI. Não foi culpa da Isaf, mas eles se dobraram ao COI. Quando eu era presidente, eles tentaram fazer o mesmo e eu disse a eles: "de jeito nenhum".

Conclusão:

* O Inland Lake Yachting Association seria um modelo. Esqueça as Olimpíadas ou representar os EUA, foco em velejar nos EUA.

*Focar na vela regional ou nos clubes e manter os mais jovens velejando em barcos pequenos. (No Inland Lake Yachting Association temos uma flotilha de Ideal 18's comprada pelos associados e doada ao clube. barcos bons para duas pessoas). Se os clubes de uma região compram os barcos de uma determinada classe e os mantém correndo por 30 anos, cada vez mais pessoas podem se valer dos mesmos barcos.

*Em relação às Olimpíadas, se você tem uma boa base para correr a Melges, não vai precisar de um time de treinadores e técnicos

* Choca saber que assim que um garoto ganha uma regata no Optimist os pais imediatamente começam a sonhar com as Olimpíadas.

* Quando o garoto vencer a Buddy Melges, aí sim ele tem talento. Até então, deixe ele se divertir com as regatas locais.

* A única coisa que o meu pai sempre me dizia em Toronto quando eu comecei a velejar aos oito anos de idade e ele me comprou um Sabot de 50 dólares era: "Vou inspecionar o barco toda a quinta-feira e se ele não estiver limpo, você não vai velejar"