Colunistas VDS: Nos ventos dos anos 60
Da esquerda para a direita, Caiquinho, Rudy, Augusto, Luiz (Chaguinhas), Gringo, Celso Cauduro e Dedá
Veteranos da vela revivem bons momentos, como a Feijoada com Calcinha e outras histórias mais
Jun/2005 por Danilo Chagas Ribeiro
Na casa de Rodolpho Ahrons, à beira do rio Guaíba, em Porto Alegre, ocorreu um divertido encontro de veteranos da vela.
Luiz e Augusto Chagas, Celso Cauduro, Gringo, Caiquinho e Dedá, reuniram-se com o Rudy (84 anos) para reviver as velejadas nos Guanabara Aloha e Vodka. Depois que Rudy abriu "a farmácia" para os amigos, o Comte Augusto Chagas (75) projetou uns 100 slides grandes (6X6) em preto e branco, feitos na Lagoa dos Patos em 1962 e 1964.
Feijoada com calcinha:
Contaram muitas histórias divertidas, algumas impublicáveis. Rudy contou que certa vez Bruno Richter preparou uma lentilhada na ilha Chico Manoel. Na hora de servir, direto do panelão, por vezes vinha uma calcinha junto, presa à colher de pau. Jogada ensaiada dos veteranos.
Pretendendo repetir a brincadeira, anos depois puzeram uma calcinha na feijoada, em uma velejada pela Lagoa dos Patos. A feijoada levou muito tempo pra ficar pronta. Tiveram que buscar água na lagoa muitas vezes, conta Rudy, e volta e meia vinha aguapé junto no balde. Aí pelas dez da noite, depois de muito ferver,
mesmo com o feijão ainda um pouco duro, resolveram servir porque a fome era muito grande. A calcinha, que desta vez era de lycra, nunca apareceu...
Se virasse...
Os veleiros Guanabara eram os barcos preferidos da época. Eram de madeira, 24 pés, com bolina de ferro, velas de algodão, e sem luzes de navegação e outras benesses.
Ao verem um outro barco aproximar-se, iluminavam a vela com uma lanterna para serem vistos. Velejavam com até 6 ou 8 tripulantes. Os Guanabara não tinham lastro nem rádio, e o celular ainda não tinha sido inventado. Se a gente virasse na Lagoa, conta Rudy, ninguém ia ficar sabendo.
Tiroteio bárbaro:
Naqueles anos os conceitos ecológicos eram outros. Era hábito portar uma arma de caça a bordo.
De saracuras a marrequinhas e a gansos pororoca, qualquer bicho comestível por que cruzassem era razão suficiente para esquentar os canos das armas (os passarinhos ficavam para a merenda). Contaram que numa ocasião na entrada da Barra Falsa o tiroteio parecia uma batalha naval: com vento de proa e os barcos virando de bordo até dava fogo cruzado.
Namoradas no Cebollatí
Luiz Chagas (84) contou que na velejada pelo Rio Cebollatí (foz na Lagoa Mirim, Uruguai) nos anos 60, tinham um tripulante que era violeiro. Quando chegaram a Puerto La Charqueada havia uma festa. Luiz pediu ao violeiro que tocasse uma música em espanhol, o que foi feito. Ao final da canção, numa jogada
ensaiada, o violão foi atirado para o ar, para dar mais emoção. Um deles aparou o violão, conforme já haviam combinado. A manobra ajudou os marinheiros brasileiros a aparecerem no cenário, e assim arrumaram namoradas na festa.
Os caras agora só velejam com satélite
Naquele tempo, as velas eram de algodão e os veleiros de madeira. Não tinham vaso sanitário, nem fogão. As cartas eram ruins e as bússolas pequenas. "Os caras agora só velejam com satélite e mais não sei o quê!", diz Rudy.